sexta-feira, 24 de junho de 2011

O micronacionalismo e o ideal de país.

SealandApesar de este ser um ensaio sobre o micronacionalismo, eu não vou dar a ele um ar carrancudo de trabalho acadêmico como fiz com os outros ensaios que escrevi e publiquei no Acirrando (O mito da liberdade, O mito da democracia e Capitalismo x Socialismo); nem muito menos, me embasar em livros de referencias. Apenas em minhas memórias e no que eu ainda encontrar sobre o assunto na internet.

Há algum tempo estava me lembrando de quando entrei na internet (WWW) pela primeira vez em meados de 2000; eu usava um Pentium 3 550 numa placa PC chips M748LMRT com 128 mega de memória SDRAM 100mhz, ligado a linha discada. A única coisa boa desse PC era a memória e o gravador de CD com DVD; ele rodava poucos jogos, então eu sempre procurava algumas diversões leves como musica ou jogos em emuladores.

Bandeira de Porto ClaroMas um conhecido da internet me disse que tinha uns jogos que podia ser jogado pelo Internet Explore (eu ainda não usava o Mozila Firefox); e fui atrás dos ditos cujos - mas os games não me atraíram - pareciam uns de RPG texto que eu tinha jogado nos tempos dos BBS. Mas procurando no Yahoo! e no finado Cadê! Deparei-me com uma coisa chamada micronacionalismo (mais informações na Wikimicropídia) e um país feito por brasileiros na internet (Porto Claro); e me apaixonei por isso.

Comecei a fazer todo tipo de pesquisa sobre o assunto, uma mania minha, e fiquei fascinado por ele. O micronacionalismo tem até um campo de estudo dentro das ciências sociais, a micropatriologia, e na época tinha um instituto para seu estudo na Universidade de Paris – fundado por um dos primeiro estudiosos do assunto, Fabrice O'Driscoll, da Universidade Aix-Marseille que publicou um livro intitulado: Ils ne siègent pas à l'ONU (Eles não estão nas Nações Unidas) - logo eu descobri um mundo fascinante e neste ensaio eu vou contar um pouco do que descobri.

Robert Ben MadisonA primeira micronação (ou país maquete) ao que parece foi Ely-Chaitlín fundada por Marc Eric Ely na Califórnia na década de 60 (1963); mas a mais famosa foi sem duvida alguma o Reino de Talossa fundada em 1979, por um garoto de 14 anos chamado Robert Ben Madison, esse país foi modelo para muitos outros e foi o primeiro a entra na internet (1995). A essa duas micronações (Ely-Chaitlín e Talossa) pode atribuir-se a invenção do micronacionalismo como nós o conhecemos.

O fenômeno se alastrou lentamente pelo mundo e em 25 de setembro de 1992 surge no Brasil, Porto Claro, fundado por Pedro Aguiar; a primeira micronação em língua portuguesa e uma das primeiras na internet e o modelo assim como Talossa para muitas outras que surgiram ao final do século XX.

O micronacionalismo cresceu tanto durante o final de 90 e inicio do novo século que foi estruturado até uma espécie de ONU para eles a Liga dos Estados Secessionistas (em inglês, League Of Secessionist States ou LOSS) – que inicialmente era uma aliança militar formada por Talossa, Império Imperial de Jahn e Reino de Thord contra o Império do Quarto de Glib – como podem ver no início havia um que de humorístico no micronacionalismo que transparecia na LOSS e nos nomes dos “países”. Mais mesmo a LOSS não foi à única desse tipo a aparecer, mas assim mesmo por si só já mereceria um ensaio aparte devido aos golpes e maquinações políticas que ocorreram dentro dela.

Deixando o aspecto histórico de lado vamos às definições dentro do estudo da micropatriologia. Podemos dividir as micronações em oito tipos básicos:

Simulações Sociais, econômicas, políticas.
Exercícios de entretenimento pessoal ou de auto-engrandecimento.
Exercícios de fantasia ou ficção criativa.
Estes podem ser considerados como as verdadeiras micronações dentro do conceito moderno, isto e um país maquete sem nenhuma pretensão territorial valida.

Veículos para a promoção de uma agenda.
Este tipo e uma das novas modalidades e esta mais ligada a ONGs e instituições que lutam por alguma causa social ou ambiental.

Entidades criadas para fins fraudulentos: Essa não precisa nem de explicação.

Anomalias históricas e estados aspirantes.
Novos projetos de país.
Exercícios de revisionismo histórico.
Este grupo pertence a uma classe de micronações (apesar de eu não as considera que seja verdadeiramente micronações) que se assentam em direitos realmente verdadeiros ou descuidos em unificações territoriais, criações de grandes estados; ou simplesmente são tentativas de criar novos países. E temos vários exemplos desse tipo como: Sealand, Seborga e a Republica de Minerva.

O hobby (se e que podemos chamá-lo assim) não foi o único a aparecer com esse caris na historia moderna, tirando a fase nacionalista do século dezenove – que nos legou o surgimento e ressurgimento de muitos países como Romênia, Bulgária, Servia, Montenegro e Grécia - tivemos também no campo das artes (principalmente na literatura e no cinema) fenômeno semelhante quando o cidadão médio acabou por ter conhecimento de muitos países que seque imaginava, por meio do barateamento das informações (principalmente jornais impresso) no período entre guerras.

Isso ocasionou uma curiosidade sobre o assunto nos campos das artes, assim como um sucesso de publico em algumas obras, como exemplos, temos: o livro de Rudyard Kipling The Man Who Would Be King (O homem que queria ser rei) de 1888 ou o filme The Mouse That Roared (O rato que ruge) de 1959 baseado nas obras de Leonard Wibberley; e até mesmo o mais recente Diário da princesa de Meg Cabot que rendeu um filme da Walt Disney Pictures.

O que podemos perceber e que na verdade as micronações e os micropaíses podem ser considerados como extensões do velho sonho que todos nós temos de comandar um país e participar ativamente na vida política dele, coisa hoje quase impossível para a grande maioria, devido à complexidade do estado moderno. Alguns teóricos - como Benedict Anderson autor de Imagined Communities (Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a propagação do nacionalismo) - conjecturam que até os estados atuais em algum grau possam ser considerados países imaginários, já que nascera da cabeça de alguns revolucionários.

De posse de toda essa informação eu fui atrás de micronações para poder entra e participar da vida nelas (antes eu tinha criando um país assentado na loucura, só tinha, eu e mais um habitante morando no manicômio do país, estranho não?); pensei em varias, Sacro Império de Reunião, Porto Claro, Orange, mas me decidir pela República de Havana.

Criei um personagem meio obscuro caracterizado como um latino de cabelo e barba grandes com ar de gigolô cubano, e me preparei para “nascer”. Quando entrei no país o micronacionalismo brasileiro já tinha alcançado a ápice e estava perto de entra em decadência, já se sentia certo desanimo em algumas micronações. Os golpes de estado, extinções e fusões e as campanhas difamatórias corriam soltas entre as micronações lusófonas. Além disso, os egos inflados de alguns governantes acabavam por espantar muitos novos cidadãos.

Tentei dar um gás, criando uma empresa e me inserindo na política partidária e no jornalismo. Mas já era tarde, demorei demais, novas formas de interação e o aumento do numero de usuários de banda larga diminuíram em muito as atividades entre os cidadãos mesmo em micronações grandes como Porto Claro e o Império de Reunião, o que não dizer de uma pequena “nação” como Havana.

Isso e um dado curioso; o micronacionalismo se utilizava de meios um pouco antigos para funcionar - a maioria usava os grupos de e-mail (do Yahoo principalmente) - um recurso que já vinha cambaleando desde 2000 e foi gradualmente substituído pelos fóruns on-line e chats. Eu não acho que estes tenham sido as principais causa mortis de muitos micronações, mas eles e a expansão de jogos on-line e simuladores, além do crescimento da banda larga, ajudaram em muito a quase extinção dessa forma de interação; assim como os fóruns e chats quase dizimaram os grupos de e-mail.

Hoje temos versões modernas das micronações incluídas no DNA de muitos projetos de jogos como os do Nationstate e eRepublik, mas eles são mais jogos e os países maquetes de antigamente não visavam o lucro, e nem muito menos a vitória; eles estavam mais focado na interação social dos membros.

Apesar de hoje não ter muito mais tempo, e já esta jogando um jogo de simulação social (eRepublik), eu vejo essa época com um pouco de saudade e nostalgia, como não me lembrar das brigas e discussões intermináveis nos jornais e dos bons amigos como Francis Lauer, Dalia Negra, Thalis e tanto outros que encontrei nesta curta passagem que fiz pelo mundo do micronacionalismo.

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